O autismo é uma condição psicológica que comove e, ao mesmo tempo, desperta a curiosidade. A prova disso é a quantidade de livros e filmes feitos a respeito do tema: crianças ou mesmo adultos que vivem num grau de isolamento extremo e não respondem às tentativas de aproximação, por mais amorosas que sejam.
Esse modo de ser causa em muitos um mal-estar extremo, em outros nem tanto. A psicanálise nos mostrou que, no início de nossas vidas, todos nós apresentamos um isolamento e uma autogratificação que é abandonada conforme o crescimento. Com os cuidados maternos o bebê descobre que pode esperar algo interessante vindo de fora.
A criança autista não sai dessa situação inicial vivida por todos nós. Isso porque pode estar presa de forma muito forte aos mecanismos de autogratificação repetitivos (repetir a mesma palavra ou o mesmo movimento) ou mesmo porque, por motivos variados, houve um desencontro inicial entre o bebê e o ambiente. Sendo assim, passa a apresentar uma recusa do Outro e uma desistência em tomar a palavra. Os outros passam a não existir.
O atendimento clínico do autismo visa a recuperar essa possibilidade de enlaçamento da criança ao mundo exterior a partir de pequenos fragmentos de interesse que a criança possa manifestar. As portas de entrada são variadas: música, números, geografia, cores, texturas e, nesse caso, é preciso seguir a criança, e não o contrário. Preferimos apostar que um sujeito com sua singularidade possa advir da condição autista. Isso porque é uma questão para todo o ser humano, autista ou não, criar para si próprio uma vida mais qualificada e feliz. Atendimentos que preconizam a repetição de comportamentos e treinamento para viver em sociedade não respondem à necessidade primeira de todos que é: ser responsável e criativo frente as adversidade da vida.
Há crianças autistas que apresentam alterações genéticas em cromossomos específicos, mas há crianças autistas que não apresentam alterações nesses cromossomos e apresentam quadro de autismo. Há algumas alterações neurológicas que também foram associadas com o autismo, mas há crianças autistas sem alterações neurológicas características. Sendo assim, colocar uma situação orgânica como a causa do autismo não resolve o problema.
Livros escritos por autistas